PORQUÊ CENTRO CULTURAL… e não apenas SOCIAL?
Quando, no inicio de 1977, fui residir para a comunidade Carmelita de Santo António dos Cavaleiros, incumbida dos cuidados pastorais desse bairro em construção e também São Julião de Frielas, comecei a perceber as imensas carências socioculturais dum bairro-dormitório, em que os adultos saiam bem cedo para os locais de trabalho e só regressavam à família pela noite dentro, devido às intermináveis filas de transito das horas de ponta, que então começavam pelas 7 horas da manhã e terminavam já depois das 21 horas. As crianças e os jovens ficavam no bairro, entregues, grande parte do tempo a si mesmos e à rua, meio nem sempre favorável ao crescimento harmonioso.
Nesse mesmo ano lançámos algumas iniciativas para ocupação dos tempos livres, como foi a formação de um conjunto musical e a celebração das festas de Santo António e São Martinho, com participação de toda a população, praticante da fé católica ou não. Estas festas de rua alargaram-se a outras atividades, de grande animação do bairro. Mesmo sem as instalações paroquiais, fomos conseguindo usar recintos ao ar livre, barracões e escolas para efetuar as nossas atividades. No verão de 1981 utilizámos os espaços da Escola Primária de Santo António dos Cavaleiros para ocupação dos tempos livres das crianças e dos jovens durante o tempo de férias.
Atendendo a que, quer o Clube quer a Associação de Moradores estavam bastante partidarizados e separados na mente e na vida das pessoas, a comunidade paroquial conseguiu manter boas relações com as duas instituições e atrair pessoas de todos os quadrantes políticos. Surgiu então a ideia de criar uma instituição jurídica, ligada à paróquia, que se ocupasse da promoção social e cultural das pessoas. Assim, nasceu o Centro Cultural e Social de Santo António dos Cavaleiros que, com a inauguração da Igreja Paroquial, passou a realizar as atividades nas dependências da mesma. No ano de 1982 já havia cerca de 500 utentes a praticar diferentes atividades levadas a efeito.
Podemos dizer que se trata duma instituição que teve vida antes de adquirir o direito a ela. Que Deus recompense os iniciadores deste movimento, depois institucionalizado! Que Deus abençoe quem tem dado o melhor das suas energias e muito do seu precioso tempo a este foco de qualificação da vida dos moradores de Santo António dos Cavaleiros! Oxalá os continuadores desta ação mantenham um espirito atento e decidido, para responder sempre às necessidades mais prementes do meio, de modo a contribuir para a promoção das pessoas e da comunidade, “para que todos tenham vida e a tenham em abundancia.” (Jo 10, 10)
António Vitalino, Bispo da Diocese de Beja